Ser do Bairro
(Daniel Caeiro)
Existe uma grande diferença entre jogar no Bairro, ir ao Bairro e ser do Bairro. Se por esta altura ainda te questionas o que é o Bairro, então provavelmente só “jogas” no Bairro ou só vais ao Bairro (e se ainda existem dúvidas, não, não estou a falar do Bairro Alto).Ser do Bairro é algo que não se explica decentemente através de palavras. Tal como dificilmente explicas o que significa fazer parte da tua família. Porque no fundo ser do Bairro é isso mesmo, é pertencer a uma família. E não interessa se és o melhor jogador, se és rico, pobre, filho único ou filho do presidente da Junta. Não “és” do Bairro porque queres, serás do Bairro se o mereceres. Se fores um irmão. Se levantares o teu irmão do chão quando este cai. Se o aplaudires e incentivares quando ele falha. Se falhares e mesmo assim fores o primeiro a voltar para defender a tua equipa. Se corres mais um pouco mesmo quando todos os músculos do teu corpo te pedem para não o fazeres. Se não baixas os braços e não deixas que os teus irmãos o façam. Se o colectivo valer mais que o individual. Se realmente acreditares que a tua equipa é uma extensão de ti próprio.Para seres do Bairro tens de saber ouvir. Saber que existe alguém que te pode e quer ajudar. Alguém que vai gritar contigo, abanar-te porque quer o melhor para a equipa e consequentemente o melhor para ti. Alguém que não te deixará no chão. Que te levantará. Que chorará contigo e em igual proporção festejará também.O que nos torna uma família não são as vitórias. Nem as (poucas) derrotas. É o querer estar. Uns com os outros. E dai surgem as vitórias. Não são os campeonatos ou os escalões. O Bairro é o Bairro nos regionais ou nos nacionais. O que nos torna no Bairro é sorrir e festejar quando alguém é pai, quando alguém consegue o primeiro emprego, quando alguém consegue algo pelo qual lutou. O que nos torna no Bairro são também as tristezas. Saber que nada importa e que tudo pára para se estar com um irmão que de nós precisa no pior dos momentos.Partilhamos tudo e isso torna-nos diferentes. Vivemos tudo em conjunto e isso faz-nos equipa. Confiamos cegamente. Sabemos que se atacarmos entre o 1º e o 2º o nosso pivot entrará nas costas. Podemos fazer o passe sem pensar. Estará lá a minha extensão para o apanhar. E esperamos, todos como se fossemos nós próprios, que ele marque. Se não o fizer, gritamos. Pra próxima não falhas. Agora importa é defender.Somos diferentes e poucos conseguem entender porque. E ainda bem. Porque não se explica. Vive-se e sente-se todos os dias. Sente-se saudade de estar lá. E mesmo que só se volte ao fim de 10, 20 ou 30 anos é como se nunca tivéssemos percorrido outro caminho. É como se tivéssemos apenas faltado a um treino.Mais do que um Clube, somos uma família, com um símbolo tatuado no peito, que queima de orgulho cada vez que veste a nossa camisola e se grita:
Unidos pelo C.R.B.J.! Banzai! Banzai! Banzai!”
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